Capital não foi feita para pedestres e sistema de transporte é precário e não atende às necessidades dos passageiros

30/06/2012 - O Coletivo

Por Célia Bretas Tahan , jornalista

Andar a pé, sob o sol escaldante de Palmas, é realmente difícil, quase impossível. Não apenas por causa do calor, mas, também, porque não há quase nenhuma calçada. Então, se o coitado do cidadão decidir andar, deve se preparar para dividir o espaço das ruas com os veículos, correndo o risco de ser atropelado. Se não quiser andar, a solução é o transporte coletivo. Só tem um grande problema: quem "inventou" o sistema de transporte coletivo de Palmas nunca andou de ônibus.

A linha 19, por exemplo, não circula até a Estação Apinajé nos domingos e feriados. Quem mora nas Quadras 204, 304, 206, 306, e em outras incluídas no trajeto semanal, se quiser se deslocar, que ande a pé até a JK ou até a Theotônio Segurado. Mais uma vez, que ande debaixo do sol e no meio do mato ou da lama ou, ainda, dividindo o espaço da rua com os veículos.

Outro dia, na Estação Apinagés, a Linha 15, que deveria sair às 14h15, não tinha ônibus. Questionado, o fiscal disse que, se o "carro" quebra ou tem algum problema no caminho, não é mandado outro para substituí-lo.

Finalmente, chegou o das 14h30. Os passageiros desceram e o ônibus foi embora. Vazio. Outro veículo, que havia saído do estacionamento e se posicionado entre o espaço destinado às linhas 15 e 18 é que faria o percurso. Só que esqueceram de avisar os coitados dos passageiros que estavam ali aguardando desde as 14h05 e que quase perderam o das 14h30. Só não perderam porque o motorista, atencioso, abriu a porta quando já estava de partida. Resultado: cheguei ao trabalho atrasada.

Ainda sobre a linha 15, outro dia, uma senhora pegou o ônibus na Estação Apinagés, para ir até a Feira da 304. Tudo porque o fiscal tinha dito a ela que a linha era aquela. Só no caminho descobriu que teria de ir até o fim do trajeto e voltar, já que a 15 só passa pela feirinha quando retorna para a Apinagés.

E a outra passageira que perguntou ao motorista da Linha 19 se aquele ônibus passava na antiga Arse 22 (206 Sul) e ele respondeu que não? Coitada! Ficou esperando a Linha 15, feito besta, e teve de "passear" até o fim da JK para, então, voltar à Arse 22.

E o calor dentro dos ônibus? Coisa de queimar o cérebro! Onde foi parar o "Frescão"?O lucro, com certeza, está no bolso do Toninho da Miracema, aquele que é o único a ganhar dinheiro com os prejuízos do usuário do transporte coletivo de Palmas.

E as estações? Se aquilo pode ser chamado de estação, então sou a coelhinha da Páscoa. Não consta nem mesmo o itinerário das linhas. E, quando consta, estão lá: LO-27, NS-04 e por aí afora. Onde foram parar aqueles itinerários com pontos de referência do tipo Centro Médico, Espaço Cultural, Palmas Shopping e outros? Palmas é pequena e a nova nomenclatura das ruas - não tão nova, mas ainda desconhecida até pelos carteiros - não ajuda. Alguém, por acaso, sabe qual é a NS-04? Será que é aquela que passa no Extra? Sinceramente, não sei. E olhem que moro ali perto.

Então, vamos aos "gênios" que, em 2007, mudaram o sistema de transporte coletivo de Palmas e resolveram que a cidade não tinha mais pontos de referência, mas sim, ruas SE, NO qualquer coisa, e avenidas NS e LO. Resolveram também que o ideal era ter um "Eixão" e não os ônibus circulares que nos levavam para todos os lugares da cidade, e que o povo simples, que usa transporte coletivo, não precisa de ar condicionado. Sem contar que tem de agüentar emissoras de rádio que agradam o motorista e são uma tortura para os passageiros!

Os gênios da Miracema, apoiados pela Prefeitura (leia-se a Agência de Trânsito, Transporte e Mobilidade - ATTM), nunca andaram no sistema "inventado" por eles. Prova disso, é o fato de que, para ir da 206 Sul até a JK, ou o cidadão anda a pé, debaixo do sol ou da chuva e em ruas sem calçadas, ou pega a Linha 19 até a Estação Apinagés e, depois, a 15 até a JK.

Durante a semana, considerando que a Linha 19 passa de 20 em 20 minutos, se o cidadão tiver o azar de chegar pouco depois de o ônibus sair do ponte, vai esperar mais 20 minutos pelo próximo. Na Estação Apinagés, mais 15 minutos pela Linha 15. Em resumo, vai demorar 35 a 40 minutos para ir da 206 Sul até a JK.

Então, se seu destino é a região dos bancos, melhor mesmo ir a pé, enfrentando o sol, o calor ou a chuva, dividindo o espaço com os veículos ou pisando na lama ou no mato. E olhe que, por ali, ainda há muitas calçadas. Fico pensando nas pessoas que moram mais longe do centro e que não contam com essa "melhoria".

Claro que não poderia fazer um texto com críticas sem apontar soluções. Claro, também, que não sou especialista em transporte coletivo, mas uso o sistema e entendo bem mais do que os "gênios" que só ajudaram o Toninho da Miracema a ganhar mais dinheiro em cima do povo de Palmas.

Em primeiro lugar, Palmas precisa de uma linha circular, como a antiga Linha 30, que passava em todos os pontos importantes da Cidade. Em segundo, é imprescindível que os ônibus tenham ar condicionado. Se o Toninho achar que vai ficar muito caro, sugiro que faça como no Rio de Janeiro, onde os ônibus com este benefício tem tarifa um pouco - um pouco, viu, Toninho? - maior.

Em terceiro, vamos parar com esta besteira de identificar os pontos de referência de Palmas como ruas e avenidas, já que, a maioria delas nem tem placa de sinalização. Vamos voltar ao antigo sistema de Galeria Bela Palma, Espaço Médico, Ulbra, Ulbrinha e tantos outros.

E, por último, pelo amor de Deus e em benefício do povo que paga caro para usar o transporte coletivo, coloquem os itinerários e façam a manutenção das estações. Elas estão um lixo!