BRT de Belém ficou na promessa 700 dias depois

15/02/2015 - O Liberal - PA

No terceiro ano do mandato de prefeito, Zenaldo Coutinho assumiu Belém após oito anos de Duciomar Costa, com a promessa de dar início à solução de problemas históricos nos primeiros 100 dias de governo. Pouco mais de 700 dias depois, uma das principais missões, a de ordenar o trânsito e o transporte público - consertando o "projeto sem projeto" da gestão passada de implantar um sistema de BRT para melhorar o transporte público e equiparar Belém a Curitiba (PR) em mobilidade -, gerou resultados pífios. Para cidades do porte da capital é o sistema mais viável de transporte, de custo menor de implantação e de eficiência comprovada em diversos países, como aponta a organização não-governamental internacional Embarq (que tem sede no Brasil também). Para mais de dois milhões de passageiros que usam a frota de cerca de 2 mil ônibus que circulam pela Região Metropolitana de Belém (RMB), pouco ou nada mudou, pois os congestionamentos continuam, seguidos de desconforto, horários nada confiáveis e rodoviários despreparados, além de falta de acessibilidade para pessoas com deficiência (PcD).

Bastam alguns minutos em paradas dos principais corredores de ônibus de Belém, como na avenida Presidente Vargas ou na avenida Almirante Barroso, para testemunhar o desrespeito aos usuários, que começa na espera. Os pontos de ônibus, na maioria, estão mal sinalizados e há completa discordância sobre a existência ou não de paradas em determinados locais. Dos 1.493 pontos existentes na cidade, apenas 462 têm abrigos. Das 1.031 paradas sem abrigo, cerca de 500 têm espaço para a instalação da estrutura.

O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belém (Setransbel) ficou de consertar 100 e o restante seria disponibilizado, via licitação, para que empresas os reformassem e pudessem "adotá-los" como espaço de propaganda própria, tudo dentro de um padrão e com cabines para o comércio informal controlado, semelhantes às paradas da avenida Marquês de Herval. Mas até agora nada.

Prefeitura reclama de "herança maldita"

Abrigos tomados pelo mato obrigam os usuários em Belém a esperar o ônibus em locais perigosos

A Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob) garante que o projeto do BRT foi resgatado pela Prefeitura de Belém, no início da gestão, com sérios problemas, muitos deles técnicos e alguns de ordem administrativa. O prefeito Zenaldo Coutinho, ao assumir a Prefeitura, teve em mãos, deixada pelo seu antecessor, uma obra mal planejada, com erros de projeto e origem e coube à atual gestão decifrá-los e resolvê-los. Esta obra mudou a rotina do cidadão, tornando o trânsito de Belém um verdadeiro caos. Inicialmente a Prefeitura identificou que o ex-prefeito comprometeu, com o projeto BRT Belém, o orçamento do município em R$ 100 milhões nas obras no Entroncamento-Almirante Barroso, dos quais R$ 56 milhões foram deixados como dívida para a nova gestão pagar, dívida essa que foi paga com recurso próprio da Prefeitura. Além dos problemas técnicos nos projetos, problemas contratuais e dívidas, não havia sido garantido pela gestão passada nenhum financiamento para o BRT, entre outros problemas que foram sendo solucionados já no início da atual gestão.

A Semob readequou o projeto e realizou todos os ajustamentos de conduta necessários para retomar as obras que foram finalizadas na avenida Almirante Barroso, inaugurada em janeiro de 2014. Depois disso, a Prefeitura partiu para a licitação de outras fases da obra, tudo feito com muita lisura e respaldo dos órgãos fiscalizadores. A Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb) informou que, diferente da avenida Almirante Barroso, a obra física do BRT Augusto Montenegro, que vai do Entroncamento até a entrada de Icoaraci, é uma das mais complexas em termos de mobilidade urbana da capital paraense, e também uma das mais intensas. Os trabalhos no local já começaram, garante a Semob, apesar de não parecer, pois no local resta apenas uma poça de água.

"Estamos trabalhando nas intervenções existentes, o que garantirá o bom andamento da obra, a qual tem prazo de 18 meses para ser concluída, de acordo com o edital. Até dezembro de 2015 trabalharemos para a conclusão do primeiro trecho que vai do Entroncamento até o Mangueirão - cerca de 2,5 km de extensão -, já com o sistema operacional, conduzido pela Semob, já em funcionamento. A pavimentação e drenagem da Augusto Montenegro estão incluídas nas obras desta segunda etapa do BRT. Além disso, será feito um novo calçamento, ciclovia e revitalização da iluminação pública. O consórcio já está trabalhando nas intervenções encontradas para dar celeridade à montagem do canteiro de obras e na conclusão do projeto executivo desta primeira etapa que vai até o Mangueirão", afirma o titular da Seurb, Adinaldo Oliveira.